quarta-feira, 27 de maio de 2015

[Vitor Millione] Olimpiodoro e Damascio sobre a interdição ao suicídio no Fédon

Quando abordamos a filosofia neoplatônica constatamos de pronto um fenônemo muitíssimo interessante: o fato de pensadores ocupados sobremaneira com a busca da verdade mediante a hermenêutica dos diálogos platônicos (e de seus desdobramentos e críticas), serem capazes de elaborar doutrinas e teorias extremamente originais; originalidade que não pode ser oriunda senão do próprio ato de se debruçar sobre a obra platônica e repensar seus fundamentos. Todavia, a miríade de reflexões que os neoplatônicos nos trazem é frequentemente vista com suspeita; é comum eles serem repreendidos pela falta de literalidade no seu trato com os textos, o que supostamente torna-os fontes não confiáveis para compreender a filosofia de Platão. Seja como for, parece-nos que suas reflexões são de grande valia precisamente pelo fato de nos forçarem a uma perspectiva com a qual não estamos acostumados.


Com o objetivo de apresentar panoramicamente o modo pelo qual o neoplatonismo lidava com a obra de Platão, escolhemos a leitura de Olimpiodoro e Damascio, dois neoplatônicos tardios, acerca do Fédon: mais especificamente, a célebre interdição ao suicídio, apresentada por Sócrates no prólogo; uma questão que desde a antiguidade tem ocupado lugar de destaque no pensamento filosófico e religioso. Ver-se-á que esses autores, na tentativa de compreender um tema controverso, abordam-no a partir de várias frentes: lançam mão de conceitos próprios ao neoplatonismo (por exemplo, as noções de providência e de mímesis do divino), se inspiram nos comentários de seus antecessores e usam inclusive argumentos estremes de endosso textual. Com efeito, ressalta-se um movimento curioso no neoplatonismo: o fato de cada filósofo lidar com a mesma questão de modo bastante singular. Em suma, esperamos mostrar que os neoplatônicos - assim como nós, pesquisadores contemporâneos - depararam-se com a magnitude da obra platônica e se esforçaram ao máximo para entendê-la.

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