terça-feira, 19 de maio de 2015

[Dra. Ana Paula El-Jaick] O exercício cético de ir contra os gramáticos como um ato precursor da linguística

Sabe-se que, dos vários tratados de Sexto Empírico em que este vai contra os professores das artes liberais, os gramáticos são suas primeiras vítimas. Segundo o cético pirrônico, o ataque à gramática vem em primeiro lugar na medida em que ela nos é ensinada logo na primeira infância, além de estar na base do ensinamento para outras disciplinas e, também, pelo fato de ela se vangloriar de estar acima de todas as ciências (Adv. Gram. 41). Em Contra os gramáticos, Sexto procura mostrar a falta de critérios dos gramáticos ao construírem sua arte. A falta de provas para fundamentar seus postulados leva à impossibilidade, por exemplo, de se acatar à existência de uma entidade como a sílaba. Neste ensaio, busco – como quem ensaia um exercício – aproximar a crítica cética presente em Contra os gramáticos aos manuscritos descobertos recentemente do linguista F. de Saussure. Acredito que, com essa aproximação, é possível observar certo diálogo entre as críticas de Sexto Empírico e o pensamento de Saussure quando da inauguração dos estudos da linguagem como ciência. Nesta investigação para uma história (não teleológica) das ideias linguísticas, pretendo mostrar como Sexto Empírico já denunciava o embaraço com o qual Saussure teve de lidar quando da fundação dos estudos da linguagem como ciência: ter um objeto (a linguagem) não evidente – o que acarreta a necessidade de se criar o objeto a partir de um ponto de vista.

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