Sabe-se
que, dos vários tratados de Sexto Empírico em que este vai contra os
professores das artes liberais, os gramáticos são suas primeiras vítimas.
Segundo o cético pirrônico, o ataque à gramática vem em primeiro lugar na
medida em que ela nos é ensinada logo na primeira infância, além de estar na
base do ensinamento para outras disciplinas e, também, pelo fato de ela se
vangloriar de estar acima de todas as ciências (Adv. Gram. 41). Em Contra
os gramáticos, Sexto procura mostrar a falta de critérios dos gramáticos ao
construírem sua arte. A falta de provas para fundamentar seus postulados
leva à impossibilidade, por exemplo, de se acatar à existência de uma entidade
como a sílaba. Neste ensaio, busco – como quem ensaia um exercício –
aproximar a crítica cética presente em Contra os gramáticos aos
manuscritos descobertos recentemente do linguista F. de Saussure. Acredito que,
com essa aproximação, é possível observar certo diálogo entre as críticas de
Sexto Empírico e o pensamento de Saussure quando da inauguração dos estudos da
linguagem como ciência. Nesta investigação para uma história (não teleológica)
das ideias linguísticas, pretendo mostrar como Sexto Empírico já denunciava o
embaraço com o qual Saussure teve de lidar quando da fundação dos estudos da
linguagem como ciência: ter um objeto (a linguagem) não evidente – o que
acarreta a necessidade de se criar o objeto a partir de um ponto de
vista.
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